quarta-feira, 10 de março de 2010

Quem Matou o Escritor?





O homem, um investigador nato, depois de passar por inúmeras livrarias, grandes bibliotecas particulares e públicas, indagar e procurar por toda parte que lhe era possível, ele simplesmente não podia mais ocultar o incômodo pela dura realidade que tinha diante de si. O que se via, em todas as estantes, eram vagas e mais vagas entre uma obra e outra... Mas o que ele procurava, na verdade, ele não encontrou. Deveria ele prosseguir em sua busca? Se sim, até quando? Encontraria, afinal, o que procurava? Que teria acontecido ao escritor X e aos seus escritos? Onde teria ele se metido ou o que estaria ele fazendo, se não escrevendo...?

Esta é uma investigação que muitos de nós, especialmente os que nos damos a escrever, já fizemos e continuamos a fazer; vez por outra. Não foram poucas as vezes em que procuramos por um assunto que há muito deveria ter sido registrado, publicado e divulgado; no entanto, escafunchamos por toda parte (agora até pela internete!) e por fim, exaustos e frustrados, temos que tomar nós mesmos a incumbência de coletarmos impressões ou informações sobre o tema para, quem sabe, um dia termos o entendimento que tanto nos interessa.

Folheando um jornal[1], há algum tempo atrás, me deparei com a seguinte frase: “O escritor precisa cultivar três atributos: A insatisfação, a percepção, e a intuição”; mas, o que me chamou mesmo à atenção foi “a insatisfação”! Parece que a insatisfação tem sido a mola mestre e uma constante no âmago de todo escritor; caso contrário, por que razão se daria ele ao trabalho de escrever, se já estivesse satisfeito com o que já se tem escrito para a informação do intelecto ou para o deleite da alma?

Contudo, temos que admitir que escrever nunca foi uma tarefa fácil. Evidência disso é o desespero que os jovens apresentam na hora de fazer uma simples redação, como no caso do vestibular! E, desespero mesmo é ler o que eles escrevem! O que é que está faltando, então, para a formação desses jovens? Qual seria a grande diferença entre uma má e uma boa redação? O Barão de Itararé disse, certa vez: “O laborioso conta o que fez; o idiota, o que pretende fazer.” Parafraseando aqui as palavras do Barão, diríamos: “O bom leitor escreve o que um dia leu, aprendeu e o que conseguiu reter em sua mente; o idiota, o que nunca soube!”

Aqui o atento leitor bem poderia argumentar: “Mas, afinal, escrever é ou não uma arte?” Minha resposta, a tal indagação, seria um enfático SIM! Sempre houve escritores, os consagrados, os artistas e pais da matéria, que brincam com as palavras com uma propriedade, familiaridade e habilidade simplesmente genial! Mas, convenhamos, ninguém precisa ser um Mozart na vida para ser um músico, concordam? Mesmo porque, não é todo dia que nascem artistas exponenciais; o que não quer dizer, em absoluto, que os que não são expoentes não tenham nada com o que contribuir. Aliás, todo homem de sucesso um dia teve que aprender o enfadonho beabá; e, se for honesto, ele terá que admitir que o sucesso não veio senão após muitas lutas, tentativas e insucessos. Parafraseando Bob Marley, "A vida [ou, o sucesso, diríamos] é para quem topa qualquer parada, e não para quem pára em qualquer topada!”

Certa vez alguém perguntou a um renomado escultor em madeira qual era o segredo de tão perfeitas esculturas, verdadeiras obras de arte! Sua resposta foi: “É simples; eu apenas vou tirando do tronco, pouco a pouco, tudo o que não se parece com a imagem que tenho em mente” e ele não poderia ter sido mais feliz em sua resposta! O grande problema, com a maioria de nós, é que iniciamos um projeto como se já o estivéssemos terminando; falta em nós aquela necessária dose de paciência para o “pouco a pouco”, condição sine qua non[2] para o sucesso e para a consolidação do mesmo.

Concordamos com John Charles Salak em seu famoso dito: “Os fracassados são divididos em duas classes: Aqueles que pensaram e nunca fizeram, e, aqueles que fizeram e nunca pensaram”;  porém, diríamos ainda que os vitoriosos e bem sucedidos, os artistas, cada qual em seu ramo de atividade, se dividem também em duas categorias: Os satisfeitos, que não vêem razão para muita fadiga em busca da “arte”, e os insatisfeitos; estes sim, dão sempre de si tudo o que podem (e até vão além!) no sentido de melhorar e de aprimorar o que já poderia ser considerado como bom.

Se é verdade que para ser escritor, o que se precisa é escrever, de igual modo podemos inferir que para escrever, o que se precisa é começar. De primeira mão o escrito sempre sairá bruto, desconexo e um tanto idiota; mas, se o escritor se pretende um artista consciente, ele naturalmente irá delinear, lapidar, esculpir, moldar a idéia de forma que o seu texto não apenas comunique a mensagem desejada, mas ainda o apresente com toda clareza e beleza possível. Vale a pena lembrar, também, que a verdadeira arte não está no divisar entre os conceitos de bom ou ruim, e sim, na visão entre o que é meramente bom e o que pode ser ainda melhor; isso é arte!

Agora, retomando ao tema inicial: “Quem matou o escritor?” Diríamos que nada tem sido mais letal para o escritor do que o desânimo, o desinteresse, a falta de incentivos, as dificuldades ou, até mesmo, o excesso de facilidades! Tivéssemos nós um posicionamento correto com respeito a essas perspectivas da vida e do mundo ao nosso redor e não teríamos tantos artistas em potencial sendo exterminados... Dia após dia! E para você, que anda sendo cortejado pela nefasta desistência, lembre-se: O sucesso encobre uma multidão de insucessos![3]

by  Enih Gil’ead


[1] Jornal O Globo de São Paulo, de 23/05/2009.
[2] Latim sine qua non, que quer dizer: “Sem o que, não pode ser”.
[3] Citação de George Bernard Shaw.

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